Com esta iniciativa, em conjunto com o Governo, a Câmara visa “desenvolver um plano proativo de inclusão” para que “parte destas pessoas não sejam temporárias”, mas sim “habitantes em definitivo no concelho de Odemira”, avançou o presidente da câmara, Hélder Guerreiro.

O autarca revelou também que o município está a desenvolver um outro projeto centrado nos trabalhadores migrantes, no qual tem estado “a trabalhar com o Governo” e que, “em princípio, vai começar em maio”, assenta no “reforço dos serviços de interesse geral” no concelho, disse em entrevista à agência Lusa.

Uma das ações concretas vai passar pela criação de “balcões dedicados à população migrante”, para que esta possa “ter, com os tradutores, um serviço descentralizado”, no fundo, “uma espécie de Balcão do Cidadão dedicado à população migrante”.

“Isto não obsta a que as pessoas que não sejam migrantes possam recorrer” a esse serviço, quando o projeto for concretizado, mas vai contribuir para “aliviar os serviços de interesse geral da sede do concelho”, como as finanças ou segurança social, que estão “muito pressionados por todos os dias, terem muita gente a acorrer aos serviços”, acrescentou.

No dia 29 de abril faz um ano desde que foi decretada uma cerca sanitária em duas freguesias de Odemira, devido à elevada incidência de casos de covid-19 entre os trabalhadores migrantes das explorações agrícolas, a qual entrou em vigor no dia seguinte e foi levantada às 00:00 do dia 12 de maio.

A cerca sanitária deu destaque mediático às condições desumanas em que muitos trabalhadores migrantes vivem, sobretudo trabalhadores temporários em campos agrícolas de empresas de hortícolas e frutos vermelhos.

Debruçando-se sobre o assunto, autarca referiu ainda que a câmara pretende criar oportunidades, em termos de habitação, que permitam fixar “pelo menos 3.000 pessoas” em Odemira.

“Tal como estamos a lançar um conjunto de ofertas [habitacionais] para os jovens do concelho, pensamos que o alargamento desta oferta permitirá que algumas destas famílias [estrangeiras], que vivem cá há muitos anos e vão cá ficar, tenham oportunidade de se estabelecer neste território”, indicou.

Por sua vez, o presidente da câmara acredita que “pelo menos 3.000 pessoas” possam fixar-se no concelho de Odemira, que foi “o que mais cresceu do ponto de vista demográfico no país”, de acordo com os Censos de 2021.

“Fazia pouco sentido que não conseguíssemos garantir” que o aumento populacional “não fosse não só contextual, como também estrutural para o futuro”, frisou, defendendo que é preciso que “esta capacidade” de atrair pessoas, “agora seja continuada”.

O autarca indicou ainda que o município já enviou convites “a todas as entidades” para que, no espaço de “dois a três meses”, seja construído o plano de inclusão e possam ser desenvolvidos “projetos de integração proativos” que permitam “encontrar condições” para que os imigrantes no concelho “tenham uma vida boa”.

O plano vai permitir “perceber quais as qualificações destas populações”, sublinhou o autarca, acrescentando que a população migrante trabalha não só na agricultura, mas “em quase todas as áreas da atividade económica” do concelho.

“Pensamos que estas pessoas vêm trabalhar para a agricultura, mas já não é bem assim. No turismo, nomeadamente na área da restauração, trabalha uma população migrante muito grande”, acrescentou.

Segundo Hélder Guerreiro, “nenhum autarca seria capaz de dar uma resposta imediata àquilo que são todas as preocupações, necessidades e desafios que um fluxo demográfico deste tipo, seja em quantidade, seja em diversidade, cria num território que não estava mesmo preparado para responder a uma questão destas”.

“Agora, a única coisa que temos mesmo de fazer é assumir que, de facto, o concelho de Odemira é um concelho multicultural e que precisa de respostas complexas e múltiplas a todas estas situações”, concluiu.