Estes resultados provenientes de um estudo, que comparou frutas frestas europeias, foram facultados pela “Pesticide Action Network” (PAN). A PAN Europa é uma rede com mais de 600 organizações não governamentais, instituições e pessoas de mais de 60 países que procura minimizar os efeitos negativos dos pesticidas perigosos e substituí-los por alternativas melhores.

Segundo o documento divulgado a 24 de maio, as maçãs e peras portuguesas estão no segundo lugar do ranking da maior proporção de frutas contaminadas em 2019. Em 85% das peras portuguesas testadas e em 58% de todas as maçãs testadas foi encontrada contaminação por pesticidas perigosos.

Nesse sentido, as taxas de contaminação tanto para maçãs como para peras mais do que duplicaram entre 2011 e 2019. “Tem havido um aumento dramático de fruta vendida ao público com resíduos dos pesticidas mais tóxicos que deveriam ter sido banidos na Europa por razões de saúde”, alertam os especialistas.

Para o efeito, foram analisadas 97.170 amostras de fruta fresca cultivada na Europa, demonstrando um aumento de 53%, em nove anos, da frequência de amostras contaminadas com os piores tipos de pesticidas.

O estudo, segundo um comunicado da organização, contradiz alegações da Comissão Europeia de que os agricultores estão a utilizar menos pesticidas que estão relacionados com cancro e outras doenças graves, uma vez que quase uma em cada três (29%) amostras de fruta foi contaminada em 2019.

Em relação a 2019, último ano em que há informações disponíveis, as análises indicam que metade de todas as amostras de cerejas tinham sido contaminadas com pesticidas, um terço (34%) de todas as maçãs estavam também contaminadas, o mesmo acontece com cerca de metade das peras e metade dos pêssegos.

No que toca ao período compreendido entre 2011 e 2019, o estudo indica que os frutos mais contaminados foram as amoras (51% das amostras), seguidas dos pêssegos (45%), dos morangos (38%), das cerejas e dos alperces (35%). Nestes nove anos, os países que produziram frutas mais contaminadas foram a Bélgica, a Irlanda, a França, a Itália e a Alemanha.

A organização analisou também vegetais, mas nota que, por serem menos propensos a pragas e doenças a contaminação por pesticidas é menor, ainda que também tenha havido um aumento de contaminação entre 2011 e 2019. O aipo e raiz de aipo e a couve foram os legumes mais contaminados.

A PAN Europa destacou ainda que nos últimos anos os riscos têm vindo a aumentar devido à possibilidade de os consumidores comprarem não só frutas e vegetais contaminados, como essa contaminação conter combinações químicas que multiplicam os riscos para a saúde. E dão como exemplo desses “cocktails” químicos os encontrados nas peras cultivadas em Portugal.

A investigação da PAN Europa não inclui alimentos importados. Os investigadores concentraram-se nos 55 agentes químicos mais perigosos utilizados para fazer centenas de diferentes pesticidas, incluindo fungicidas, herbicidas e inseticidas.

Apesar das consequências nefastas para a saúde, a indústria do setor argumenta que não há alternativas aos pesticidas. No entanto, a PAN Europa aponta técnicas de agricultura biológica para controlar pragas e acusa os governos de proteger os interesses da agricultura intensiva.

Salomé Roynel, da PAN Europa, disse, citada no comunicado que os consumidores estão numa “posição horrível”, porque são aconselhados a comer fruta fresca, “grande parte da qual está contaminada com os resíduos de pesticidas mais tóxicos ligados a graves impactos na saúde”.

“É claro para nós que os governos não têm qualquer intenção de proibir estes pesticidas, independentemente do que diz a lei. Têm demasiado medo do lobby agrícola, que depende de produtos químicos poderosos e de um modelo agrícola obsoleto”, concluiu.