Apenas 18% dos portugueses residentes no
estrangeiro não pretende voltar para Portugal. Por outro lado, 11,6% estão a
ponderar regressar nos próximos tempos, enquanto 71% responderam que querem
voltar a viver em Portugal a médio ou longo prazo ou apenas após a reforma (43%
e 28%, respetivamente).
Estes dados resultam de um inquérito da
Sedes, divulgado no dia 5 de julho, que teve uma amostra de 300 portugueses residentes no estrangeiro, 60%
dos quais com idades compreendidas entre os 40 e 65 anos e 26% entre os 26 e os
40 anos.
Factores que retêm estes portugueses no
estrangeiro
Se para 62% dos inquiridos, os baixos
salários praticados em Portugal são a razão de ainda não terem voltado para o
país, para (19%) a razão prende-se com a falta de reconhecimento social das
suas competências e funções, quando comparado com o reconhecimento que lhes é
dado no país onde atualmente residem.
Além disso, dos 300 emigrantes e
lusodescendentes abrangidos pelo inquérito, 30% indica como razão para ainda
não ter regressado os níveis de compadrio e corrupção em Portugal. Também os
problemas ao nível dos serviços administrativos em Portugal são apontados como
um obstáculo por 16% dos inquiridos e o sistema político em Portugal por 11%,
assim como o sistema jurídico português, que é referido por outros 11%.
A falta de oportunidades profissionais é considerada
um obstáculo ao regresso para 27% dos inquiridos, assim como o sistema de saúde
que também leva 22% a preferir continuar a viver no país de acolhimento.
Somente 6% menciona as faltas de apoio ao
regresso como um problema e outros 6% dizem não estar em condições de regressar
para não interromperem o percurso escolar dos filhos.
Reforçar a ligação com Portugal
De forma a reforçar a conecção com o país
de origem, muitos destes portugueses referem que é fundamental definir uma
melhor política de comunicação e de transmissão da informação, através de
maior proximidade, melhores serviços consulares e uma ligação mais forte e
formal com as comunidades portuguesas.
Para além disso, os emigrantes consideram
muito importante a existência de políticas de promoção da língua portuguesa,
bem como da história de Portugal. Também a existência de melhores meios de
comunicação social dedicados às comunidades e o reforço dos laços com os
lusodescendentes são medidas apontadas pelos emigrantes, que acrescentam que os
portugueses em mobilidade ou residentes no estrangeiro devem ser tratados com o
mesmo valor e respeito que os que vivem no país, queixando-se de serem tratados
com desrespeito nos consulados.
No entanto, as sugestões não ficam por aqui.
Os portugueses a viver no estrangeiro mencionam que Portugal deve tornar o
exercício do direito de voto mais fácil, garantir maior eficácia nos postos
consulares e assegurar maior presença e proximidade consular.
Os emigrantes abrangidos pelo inquérito
apontam ainda a necessidade de se criar "um provedor do emigrante" e
que haja "menos burocracia e lentidão administrativa". Mas também
defendem que se dê a conhecer as realidades das comunidades portuguesas e que
se reforcem as sinergias entre estas e o país, através de um maior diálogo e
cooperação.
Emigrantes investem em Portugal
Apesar de algumas críticas apontadas, 73% dos
portugueses a residir no estrangeiro já investiu ou pensa em investir em Portugal,
principalmente em habitações ou negócios.
Segundo o mesmo estudo, 32% já o fizeram, e
refere-se o facto de uma emigração mais antiga ter por tradição investir numa
residência secundária, ou mesmo de enviar muitas remessas para Portugal
(poupanças), projetando um regresso a curto ou médio prazo como objetivo.
Contudo, a maioria dos inquiridos são
oriundos da nova vaga de emigração, logo os 32% que dizem já ter investido
podem representar um interesse menos evidente, apesar de no universo total dos
inquiridos apenas 14% ter afirmado ser improvável investir no país e 13% terem
considerado pouco provável realizar investimentos em Portugal.
Já à pergunta sobre qual a probabilidade de
promoverem os produtos portugueses junto das suas redes de contactos, 65%
responderam já o terem feito e um total de 31% afirmou ser “provável” ou “muito
provável” vir a fazê-lo.
Quanto ao período de emigração dos
inquiridos, 40,5% são oriundos da nova vaga de emigração e 18% emigraram nos
anos 1960/1970. Já 11,3% dos inquiridos são lusodescendentes.
De acordo com o relatório do Observatório da
Emigração, apresentado em 2021, e de acordo com estatísticas das Nações Unidas,
em 2019 existiam cerca de 2,6 milhões de portugueses emigrados.
Fornecer uma base científica o mais
abrangente possível, de preferência com respostas válidas de todos os
continentes é o principal objetivo do estudo, explicou Christine Oliveira, coordenadora
do inquérito, que foi elaborado no âmbito das atividades desenvolvidas pelo
Observatório das Comunidades Portuguesas.