A Outsanding in the Field proporciona experiências gastronómicas desde 1999 em todo o mundo e estreou-se em Portugal, à beira-mar na Nazaré, uma cidade conhecida pelas suas grandiosas ondas, surfadas pelos mais corajosos.

A mesa é uma das partes mais importantes do evento, pois é onde tudo acontece. Na Nazaré, a mesa foi montada num molhe, na Docapesca, próximo da marinha da Nazaré. Com um local próprio para os convidados estacionarem as suas viaturas, chegou a hora de aproximar-me do evento e a magia aconteceu.



Passando pela cozinha, com uma receção calorosa e alegre de todos os colaboradores presentes, esperava-me um welcome drink perto do farol, um pouco afastado da mesa.

Tudo o que é servido é feito por produtores locais, como tal, para as boas-vindas, os convidados poderiam degustar vinho e cerveja portuguesa. O clima abafado pedia uma cerveja fresca e cumpri o que o meu corpo pedia e provei uma das três qualidades de cerveja da Ocean Beer, produzida em Sagres no Algarve. Eram três as variedades de cerveja disponíveis: Ocean Beer Surfer IPA, Ocean Lager e Ocean Gourmet. Provei a Ocean Lager, que cruzou muito bem com os sabores dos canapés que circulavam na zona do molhe mais próxima do farol.

A comida ficou a cargo de Simply Sebastião, que revelou ao The Portugal News já ter mais de duas décadas de experiência no ramo. O cozinheiro de Carcavelos preparou para as entradas pasteis de bacalhau com algas noori, paté de sardinha com cebola roxa confitada, duas empadas diferentes, uma de galinha e outra de tomate e mozarela e ainda húmus de beterraba, servido com nachos. As cebolas e as beterrabas foram fornecidas pela Quinta do Arneiro. Nas entradas, destaco o paté de sardinha que se adequou bastante ao clima e às bebidas disponíveis para o início do evento.

Após discursos de boas-vindas, com a organização e os produtores presentes, chegou a hora de chegar à mesa e sentir realmente o que é o Outsanding in the Field. Os lugares eram aleatórios e o objetivo passaria também por conviver e conhecer pessoas novas e novas experiências.



Sentei-me no meu lugar e a conversa com os restantes convidados fluiu. Uma pergunta aqui e outra acolá, percebi que grande parte das pessoas utiliza o evento como um pretexto para viajar. A mesa é montada em vários locais do mundo e oferece refeições feitas com produtos locais, estabelecendo assim uma forma de turismo gastronómico. Sentei-me ao lado de norte-americanos, portugueses, holandeses e britânicos.

Sentados na mesa chegaram entradas tipicamente portuguesas. Azeitonas, pão e queijo. Foram apresentadas várias variedades de pão: pão alentejano, pão de mafra e broa de milho, para acompanhar o queijo de cabra, que foi apresentado numa tábua em três estágios diferentes: amanteigado, novo e velho.

Passado uns minutos começaram a chegar as primeiras refeições principais. Um aspeto que achei bastante curioso e interessante, foi a forma como a comida foi servida. Ao invés de um empratamento normal, todos tinham o seu prato já disposto na mesa e chegavam à mesa travessas e cada um devia servir-se. O mesmo prato era utilizado durante todo o evento, o que para mim foi uma característica importante. Sendo que Portugal atravessa um período de extrema seca o facto de utilizarmos sempre o mesmo prato e copo garantirá uma poupança de recursos hídricos que o ambiente agradece.

O primeiro prato a ser servido foi uma salada de lulas grelhadas com chili. Servida numa travessa com uma ‘cama’ de alface, as lulas faziam-se acompanhar por beterraba e rabanete, o que conferiu uma mistura de sabores bastante interessante. O doce da beterraba, com a acidez do rabanete conjugou na perfeição com o sabor suave das lulas que foram grelhadas na perfeição, mantendo uma textura suave do molusco servido.

Todos os pratos eram servidos com um vinho diferente, com as lulas foi servido um dos vinhos chamado Vale da Capucha, do ano 2017, denominado Fossil Branco, devido à presença de fósseis no solo das vinhas. Um vinho branco com um sabor mineral, pouco aromático no nariz que deixava um sabor seco era tudo o que a salada pedia para agradar o paladar dos presentes.

O segundo prato foi o meu favorito de todo o evento. O arroz de ameijoas algarvias foi servido numa taça de considerável tamanho. Sebastião aconselhou os presentes a comer o prato enquanto estava quente. Na minha opinião, era também uma forma de garantir que o molho não fosse absorvido pelo arroz, para que pudéssemos degustá-lo depois com um pouco de pão, bem à moda portuguesa. Os sabores do molho estavam todos interligados, garantido uma explosão de sabores, com a frescura do limão e dos coentros, um sabor tão conhecido como aquele das ameijoas à bulhão pato que se come numa mariscada à beira-mar no Algarve. Servido com um Vale da Capucha Aravão, do ano de 2017, foi sem dúvida uma das melhores partes da experiência.



Devo também destacar o terceiro prato, robalo apanhado no próprio dia, por um pescador local. Não é comum conseguir comer robalo do mar e devo dizer, é a forma mais agradável de apreciar este peixe.

A hora da sobremesa agradou a todos. Principalmente quando chegou o pão de ló de Alfeizeirão. Num toque de brincadeira, uma das convidadas portuguesas disse que ninguém ia gostar da sobremesa, enquanto servia um pouco no prato de cada um com quem partilhava mesa. O que é certo é que todos repetiram e estávamos a desejar por mais um pouco de pão de ló, que se fizeram acompanhar dos morangos mais doces que alguma vez provei, produzidos na Quinta do Arneiro, em Mafra.

O jantar começou às 18 horas, o que não é comum para o povo português, mas a conversa e todo o ambiente permitiu que o jantar se estendesse até depois das 21 horas. No final tive a oportunidade de falar com um dos organizadores, Seth Heitzenrater.

Segundo Seth, o objetivo do evento é “explorar as histórias de diferentes sítios no mundo”, sendo a comida um dos pontos de ligação. Portugal foi escolhido pela sua história e riqueza cultural, acrescentou Seth. A cidade da Nazaré foi escolhida pela sua ligação ao mar e pela sua ligação ao surf.

Fica a promessa e a vontade de regressar e de explorar mais locais em Portugal, numa experiência como a Outsanding in the Field.


Author

Deeply in love with music and with a guilty pleasure in criminal cases, Bruno G. Santos decided to study Journalism and Communication, hoping to combine both passions into writing. The journalist is also a passionate traveller who likes to write about other cultures and discover the various hidden gems from Portugal and the world. Press card: 8463. 

Bruno G. Santos