“O ar condicionado engorda porque estando frescos o nosso apetite desperta”, refere o investigador do Instituto da Gordura do Conselho Superior de Investigações Científicas de Espanha, Javier Sánchez Perona, que há 20 anos que estuda a ligação entre a temperatura e o apetite, avança a CNN Portugal.

Natural do País Basco, quando foi morar para Sevilha, Javier Perona reparou que a cidade aparentava ter menos pessoas com excesso de peso e menos ares condicionados. Por sua vez, tentou descobrir uma ligação entre estes dois fatores, através de uma investigação diária que também partilha no seu blog malnutridos.com.

De acordo com a CNN Portugal, a desconfiança do investigador foi ganhando força quando o ar condicionado chegou à cidade, pois, simultaneamente, a região viu a taxa de obesidade aumentar substancialmente.

Javier Perona não garante que a manipulação da temperatura do ar seja a única causa, até porque não encontrou nenhum estudo que demonstre especificamente esta relação. No entanto, o mais provável é que esse estudo não exista “porque provavelmente nunca ninguém o fez”, aponta o investigador.

“O que se provou cientificamente foi a relação entre a temperatura e o apetite. Quanto maior for a temperatura, menos será o apetite. Assim, parece óbvio que, se vivemos e comemos com ar condicionado, comeremos mais e engordaremos mais”, afirma o licenciado em Ciência e Tecnologia dos Alimentos em entrevista ao El País.

A este fenómeno muitos especialistas apelidam de “sedentarismo térmico”, que consiste numa adoção de comportamentos que nos leva a exercitar menos por querermos manter-nos num ambiente em de temperatura agradável.

Esta relação entre temperatura e apetite está comprovada por múltiplas investigações. Em 1963 um estudo desenvolvido com ratos concluiu que os animais comeram muito menos quando expostos a temperaturas mais elevadas. A 35 graus comeram 10% do que tinham comido com 24 graus, sendo que aos 40 graus deixaram de comer.

Mais esclarecedor é um estudo publicado pela Universidade de Birmingham, nos Estados Unidos, que demonstrou que, cada vez que a temperatura aumentava um grau, os seres humanos comiam menos 85,9 quilocalorias do alimento que lhes era dado, no caso pizza.

De resto, um outro estudo realizado pela mesma universidade, dessa vez em 2014, concluiu que “com a adoção generalizada de um clima controlado os seres humanos estão protegidos de temperaturas extremas e passam cada vez mais tempo num estado térmico cómodo em que se diminuem os gastos energéticos”. É o tal “sedentarismo térmico”.

Na prática, como temos menos frio e menos calor necessitamos de menos energia para manter a temperatura do nosso corpo, o que, no limite, vai contribuir para uma redução do metabolismo e um consequente aumento de peso, ou seja, se comermos o mesmo, mas o nosso corpo gastar menos, esse excesso de alimentos transforma-se em peso extra.