Albufeira é uma das cidades algarvias que
mais turistas recebe. No entanto, num lugar tão maravilhoso há também quem viva
sem condições básicas de vida. De forma a apoiar as pessoas que se encontram em
situação de sem-abrigo, está no terreno uma associação cujo único objetivo é o
de ajudar o próximo.
Ao chegar à delegação de Albufeira,
deparamo-nos com uma pequena loja onde o CASA (Centro de Apoio ao Sem-Abrigo) vende
roupas e outros produtos. Cátia Pereira, uma das coordenadoras desta delegação
que se encontra em Albufeira há 10 anos, explicou que aqueles que podem pagar, pagam
uma quantia simbólica para ajudar a associação, mas aqueles que não têm
possibilidade de o fazer, podem simplesmente levar os artigos de forma
gratuita. “Estamos cá para ajudar", disse.
A delegação de Albufeira é uma das dez no
país que providencia este apoio e já criou um alojamento de emergência que já
deu um teto a cerca de 50 pessoas desde 2020 - é um caso de sucesso.
Sónia Pinto, uma das voluntárias e
coordenadoras, com quem tive a oportunidade de falar, esteve presente desde o
primeiro dia e ajudou a colocar a primeira pedra. Está na associação desde o
dia em que começaram a trabalhar em Albufeira, e embora seja professora a tempo
inteiro, continua a dedicar-se totalmente à causa.
Número de pessoas a viver na rua aumenta
Apesar dos esforços levados a cabo pelo CASA,
o número de pessoas que vivem nas ruas tem aumentado. "O número de pessoas
em situação de sem-abrigo tem aumentado muito, mas a população sem-abrigo
também está diferente. Quando comecei aqui na instituição, os sem-abrigo eram
mais agressivos", disse Sónia.
Quando questionadas quanto à forma como
conseguiram ganhar a confiança da comunidade, responderam-me que: "Através
de servirmos as refeições começamos a ganhar a confiança das pessoas. Os nossos
utentes começaram a perceber que nós estamos cá para eles. Não apontamos o
dedo, estamos cá para ajudar. Então, acho que foi assim que os conquistamos,
sentamo-nos no chão com eles, comemos com eles, tomamos café e chá com eles. É
assim que se conquistam as pessoas e eles vêm que não há discriminação".
No CASA, os voluntários servem cerca de 30 a
40 refeições por dia e podem ir até 50 no Inverno. Além disso, apoiam 70
famílias carenciadas. "A alimentação é o primeiro passo - é a mais básica
das necessidades básicas", disse Cátia.
No entanto, eles vão ainda mais longe. Para
os sem-abrigo que apoiam, trabalham com eles no sentido de elaborar um plano de
vida a fim de os tirar das ruas - desde descobrir as suas preferências, fazer
um CV, encontrar um emprego, procurar uma casa, etc.
Alojamento
Em 2020, no início da pandemia, a Câmara de
Albufeira e o CASA em Albufeira conseguiram atingir o que parecia impossível.
Em cerca de duas semanas criaram o CATE (Centro de Abrigo Temporário de
Emergência), onde mais de 20 pessoas já tiveram a oportunidade de recomeçar uma
nova vida com todo o apoio necessário.
"Enquanto o governo declarava
"estado de emergência" no país e dizia às pessoas para se protegerem
e ficarem em casa, os nossos utentes não tinham casa. Encontrei-me com a equipa
e decidimos que tínhamos de encontrar uma solução para estas pessoas e tivemos
sorte. Na verdade, penso que sorte é a palavra que mais predomina nesta
instituição", disse Sónia.
"Nós tínhamos uma voluntária que
trabalhava num hostel e eles
alugaram-nos o hostel,
financiado pela Câmara Municipal de Albufeira e gerido por nós”. E foi em
apenas 20 dias, no meio da pandemia, que "conseguimos abrir um alojamento
de emergência - foi um momento muito decisivo! Agora que olho para trás, parece
fácil, mas esses foram dias muito difíceis. Lembro-me das primeiras pessoas que
entraram no alojamento. Tinham medo, mas os olhos deles transpareciam
gratidão", acrescentou.
Dois anos passaram e o que inicialmente se
previa como temporário tornou-se quase que permanente para muitos dos utentes.
Embora muitos tenham conseguido arranjar trabalho, encontrar uma casa onde
morar ou simplesmente regressar à sua família, há ainda muitos utentes que
continuam num limbo: velhos para trabalhar, mas novos para se reformarem.
"Temos capacidade para 15 pessoas no
alojamento e neste momento temos uma lista de espera de três pessoas.
Inicialmente foi acordado que a estadia máxima seria de seis meses, mas depois
não há resposta lá fora. Eles não são velhos para ir para um lar de idosos, mas
são velhos para trabalhar", disse.
Recursos
Para tornar este sonho realidade, só em
Albufeira, a CASA tem mais de 20 voluntários e 16 pessoas a trabalhar a tempo
inteiro na associação. Só para o abrigo, que está aberto 24 horas por dia,
precisam de muita gente para preencher todos os turnos.
A obtenção de financiamento continua a ser o
maior obstáculo. Na realidade, apesar de não gerarem qualquer lucro, têm de
fazer face a muitas despesas. Para o efeito, o CASA Albufeira submete várias
candidaturas. Um dos exemplos é uma
carrinha com que saem para as ruas e prestam vários tipos de apoio,
designadamente ao nível da saúde mental. "Temos uma unidade móvel também
através de candidatura", disseram.
No entanto, é um caminho muito apreensivo.
"Estamos sempre a pensar, quando o financiamento acabar, o que vamos fazer
a seguir? Por exemplo, uma terminará em Dezembro e o que vamos fazer a seguir?
É uma dor de cabeça constante", salientou.
Como ajudar?
De acordo com a Estratégia Nacional para a
Integração dos Sem-Abrigo (ENIPSSA), existem mais de 8.200 pessoas a viver nas
ruas portuguesas.
"As pessoas podem ajudar tornando-se
voluntárias, através de doações de alimentos, roupas e dinheiro. A maioria das
pessoas não gosta muito de dar dinheiro". No entanto, a ajuda monetária é
fundamental para pagar despesas de saúde, como medicamentos, etc.
Em termos de vestuário, a maior necessidade é
a de roupas masculinas uma vez que existem mais homens em situação de
sem-abrigo e, tendo em conta que não têm como lavar a roupa, a sua durabilidade
é relativamente curta.
Para mais informações, visite https://casa-apoioaosemabrigo.org/
ou siga-os nas redes sociais.
Paula Martins is a fully qualified journalist, who finds writing a means of self-expression. She studied Journalism and Communication at University of Coimbra and recently Law in the Algarve. Press card: 8252