No entanto, nos bastidores, há um trabalho que tem gradualmente vindo a ser reconhecido, o Porto D’Abrigo, onde são reabilitados animais marinhos que são notificados por terem dado à costa, ou apresentarem algum problema de saúde.

Em 1988, a empresa proprietária do Zoomarine estabeleceu-se em Portugal e, de acordo com Élio Vicente, fundador do Porto D’Abrigo, revela que após algumas negociações com o Estado Português, em 1991, foi possível desenvolver um centro de reabilitação de animais marinhos. Acontece que não foram dadas as infraestruturas suficientes para tomar conta de uma situação que necessitava de diversas ferramentas.

O Porto D’Abrigo nasceu depois de uma falta de feedback por parte do Estado Português e conta com o apoio do Zoomarine, fundador do centro de reabilitação. No entanto, algumas surpresas foram aparecendo. Segundo o que Élio Vicente disse ao The Portugal News, os biólogos e veterinários do centro esperavam receber “um golfinho a cada cinco anos, porque era a estatística que nós tínhamos até à altura, uma ou duas focas por ano, e talvez uma a duas tartarugas por ano.” No entanto, a atenção mediática deu a conhecer o Porto D’Abrigo, facilitando o contacto da população ao centro quando encontravam um animal numa situação perigosa para a sua saúde, aumentando a necessidade de resposta do Porto D’Abrigo, que iniciou funções em 2002.

Ao longo de 20 anos, o fundador do centro, admite sentir que a relação entre os portugueses, entidades, e estrangeiros a visitar Portugal com o mar tem se estreitado, logo “acabam por saber a quem chamar quando se deparam com uma tartaruga, golfinho, foca, ou um cágado”, que deu à costa no mar e precisa de apoio.

Em 20 anos, o trabalho da equipa é positivo, no entanto não se medem taxas de sucesso, devido à imprevisibilidade das situações com que os profissionais se deparam. Partindo do ponto que um animal ao dar à costa implica que já esteja num estado de saúde debilitado. No entanto, algumas espécies são mais fáceis de tratar que outras. No caso dos golfinhos, Élio Vicente afirma que, dando à costa, “é praticamente impossível salvar, pois ele dá à costa já em más condições.” As esperanças crescem quando se trata de uma cria perdida da mãe, sem problemas de saúde, ou de um animal preso a uma rede de pesca. Em relação aos golfinhos, o técnico apela às pessoas que, quando encontrarem um na costa, para não tocar no animal, pois o toque e a voz humana podem desencadear um choque de stress, capaz de matar o golfinho.

Ao Porto D’Abrigo chegam ainda animais, como cágados, apanhados e mantidos em cativeiro de forma ilegal, anos após a sua captação. Ao centro chegam animais desnutridos, que acabam por apresentar deficiências físicas na carapaça, por exemplo.

Após o tratamento dos animais, o objetivo é a devolução ao seu habitat natural. Élio Vicente garantiu ao The Portugal News, que nenhum animal é mantido para exposição zoológica no Zoomarine após o seu tratamento. Não obstante, os animais oriundos de outras regiões que, por algum motivo, sejam encontrados a Portugal, voltarão para a região onde encontram as melhores condições para viverem de forma saudável. Certos casos obrigam a permanência do animal em cativeiro, devido a uma paralisia, por exemplo. Nesses casos, “o animal é encaminhado para o Estado Português”, que se encarrega de procurar o local adequado para a permanência do animal marinho.

O Porto D’Abrigo “é um espaço misto”, com necessidade de ser polivalente, pois trata várias espécies de animais. O centro de reabilitação tem capacidade para tratar vários tipos de animais. Sete espécies de golfinhos, quatro de tartarugas, três espécies de focas, duas de cagados e ainda uma espécie de lontra. São várias as infraestruturas que garantem o bem-estar animal dos animais feridos, com diferentes dimensões e microambientes. Élio Vicente acrescenta ainda que se trata de um espaço isolado. Alguns animais podem ter a presença de algum vírus ou parasita, nocivo à saúde humana, que não deve ser transportado para outras áreas. Como tal, todos os profissionais têm acesso a casas de banho, para que possam tomar todas as medidas de higiene necessárias, assim como uma lavandaria para proceder à lavagem das roupas que podem, ou não, estar contaminadas.

Em 20 anos de reabilitação de animais, há sempre casos mais marcantes que outros. Uns pelo seu mediatismo e outros pelo desafio. Élio Vicente recorda o dia em que o Porto D’Abrigo recebeu uma tartaruga de couro que pesava 296 quilos, que estava presa a um fio de pesca. O processo tornou-se complicado logo no momento da imobilização do animal até ao processo de tratamento. No entanto, o animal que teve que ser transportado com recurso a “um navio de guerra e uma grua específica”, levantou uma onda de solidariedade. Em Vila Real de Santo António, um pescador apanhava medusas para alimentar a tartaruga, assim como o Instituto Português do Mar e da Atmosfera atualizava o centro de reabilitação quanto às zonas onde se podiam encontrar medusas, facilitando a captação de alimento para o animal.

O que existia há 20 anos, hoje pode ser obsoleto. Apesar de todos os esforços e da elevada capacidade de resposta, Élio Vicente almeja mais. Assim, espera daqui a cinco anos conseguir ter tecnologias mais recentes no centro, assim como uma ambulância zoológica, capaz de acelerar o processo de solução de emergências.

No website do Zoomarine, pode ser encontrado um folheto que ensina a lidar com os diversos animais marinhos que podem dar à costa em https://weprotect.zoomarine.pt/pt/centro-de-reabilitacao/


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Deeply in love with music and with a guilty pleasure in criminal cases, Bruno G. Santos decided to study Journalism and Communication, hoping to combine both passions into writing. The journalist is also a passionate traveller who likes to write about other cultures and discover the various hidden gems from Portugal and the world. Press card: 8463. 

Bruno G. Santos