"A ideia não é propriamente descobrir artefactos ou novos sítios arqueológicos, mas sim trabalhar um pouco com o que já conhecemos, porque o nosso principal objetivo é tentar perceber a evolução da paisagem", disse à Lusa o investigador Gonçalo Lopes.

Coordenada pelos arqueólogos marítimos Gonçalo Lopes e Joana Baço, a investigação centra-se no mapeamento e estudo do património cultural subaquático no concelho de Lagos, no distrito de Faro, e como este pode constituir um motor de desenvolvimento social, cultural e económico.

"Iniciado em 2024, o projeto permitiu a localização e identificação de cerca de 95 artefactos de diversas tipologias, maioritariamente âncoras de ferro e pedra, cuja data ainda não foi determinada", disse o investigador.

Natural de Lagos e conhecedor do "valioso património subaquático acumulado ao largo da costa de Lagos ao longo de milénios", Gonçalo Lopes quer dar a conhecer à população "toda a riqueza que se encontra no fundo do mar".

"Esse património é de todos, por isso queremos criar dois percursos subaquáticos, um físico para mergulhadores e outro filmado, para que aqueles que não são mergulhadores possam ter um acesso o mais próximo possível e possam ver a realidade que nós vemos", sublinhou.

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O investigador adiantou que "a ideia é dotar a população de mais informação e conhecimento sobre o seu passado comum, aliando a vertente patrimonial à da vida marinha, biologia, fauna e flora da região".

Ao mesmo tempo, disse, a intenção é manter "uma colaboração com toda a comunidade, tornando-a o principal agente de proteção e promoção deste recurso finito e não obrigatório".

Numa outra fase do projeto, prevê-se "comparar o que existe no fundo do mar com as fortificações existentes em terra, na zona costeira, para se ter uma melhor ideia da evolução da paisagem no concelho de Lagos".

O trabalho incide apenas "na prospeção, não inclui escavações, ficando os objectos identificados, na sua maioria, no fundo do mar", salientou.

Para a exploração, inspeção e registo de artefactos no fundo do mar, são utilizadas ferramentas tecnológicas como um veículo subaquático não tripulado e operado remotamente (ROV), combinado com óculos de realidade virtual.

São feitos registos fotogramétricos e animações em vídeo, além de modelos tridimensionais texturizados, manobráveis e impressos para tornar o património subaquático acessível à comunidade invisual, concluiu Gonçalo Lopes.

O MUCH Lagos - Património Cultural Marítimo e Subaquático de Lagos foi aprovado pelo Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS), do Património Cultural, a tutela e o organismo responsável pelo património cultural subaquático de Portugal Continental.

O projeto está alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da UNESCO para 2030 e com os princípios e diretrizes da Convenção da UNESCO para a Proteção do Património Cultural Subaquático.