O que começou com os fabricantes de automóveis topo de gama a escolherem a capital para os seus centros de inovação digital evoluiu agora para uma tendência mais alargada. A recente decisão de um grande grupo internacional de luxo de estabelecer o seu centro tecnológico europeu em Lisboa marca um desenvolvimento significativo e simbólico. A mudança sugere que Portugal não só está a manter a sua dinâmica, como também a expandir o perfil das indústrias que investem no seu ecossistema tecnológico.

Esta mudança evidencia um reconhecimento crescente: a tecnologia já não está confinada às empresas tecnológicas tradicionais. As marcas de luxo, conhecidas pelo seu legado, artesanato e exclusividade, dependem cada vez mais da infraestrutura digital para apoiar as operações globais - desde plataformas de comércio eletrónico e logística da cadeia de fornecimento até à cibersegurança e experiência do cliente. O estabelecimento de uma base em Lisboa reflecte uma necessidade estratégica de combinar património com inovação, e Portugal parece oferecer o equilíbrio ideal de ambos.

A atração de Lisboa reside em vários factores interligados. Em primeiro lugar, a disponibilidade de talento qualificado, particularmente em engenharia, segurança informática e sistemas digitais, torna-a um terreno fértil para as empresas que procuram construir ou expandir a sua capacidade tecnológica. As universidades e as instituições de investigação em Portugal têm produzido, de forma consistente, licenciados altamente competentes nas áreas STEM, e as empresas internacionais procuram agora ativamente parcerias para explorar esta reserva de talentos locais.

Em segundo lugar, a relação custo-eficácia de Lisboa relativamente a outras capitais europeias, aliada à sua elevada qualidade de vida, torna-a uma localização desejável não só para os empregadores, mas também para os trabalhadores. A capacidade de atrair talentos internacionais e, ao mesmo tempo, de desenvolver os profissionais nacionais, proporciona às empresas a flexibilidade necessária para dimensionar as suas equipas de forma eficaz.

Em terceiro lugar, a crescente reputação de Portugal como um centro de inovação e de arranque de empresas criou um ambiente dinâmico para a experimentação tecnológica e a colaboração. Este ecossistema incentiva o diálogo intersectorial e atrai uma comunidade de pensadores e construtores que contribuem para uma cultura de progresso. As marcas globais que entram neste ambiente não estão simplesmente a criar escritórios satélite; estão a inserir-se numa economia digital virada para o futuro.

A criação de um novo centro tecnológico por um grupo global de luxo sublinha que Lisboa já não é apenas um destino para o turismo de consumo ou para empreendedores de start-ups e está a tornar-se uma pedra angular na estratégia global de alguns dos sectores mais prestigiados e tradicionalmente não tecnológicos do mundo.

Este desenvolvimento representa mais do que apenas emprego ou investimento. Reflecte uma transformação mais profunda: Portugal está a redefinir o seu papel na cadeia de valor global e não apenas como produtor ou prestador de serviços, mas como arquiteto da inovação digital. Quer se trate de mobilidade, finanças ou luxo, as principais empresas do mundo estão a ver em Lisboa o que muitos habitantes locais sabem há muito tempo: é um lugar onde a tradição e a tecnologia se encontram e onde o futuro está a ser ativamente construído.


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Paulo Lopes is a multi-talent Portuguese citizen who made his Master of Economics in Switzerland and studied law at Lusófona in Lisbon - CEO of Casaiberia in Lisbon and Algarve.

Paulo Lopes