O relatório, divulgado pela equipa liderada pelo antigo primeiro-ministro português António Costa, recolheu informação do Deutsche Bank e revelou que os cidadãos de Lisboa gastam 116% do seu salário em habitação.

A situação apontada pelo Deutsche Bank tem em conta os preços dos apartamentos no centro das principais cidades europeias e os salários médios. Em Barcelona e Madrid, o rácio da habitação é de 74%.

As três cidades ultrapassam cidades com níveis de vida mais elevados, como Viena (37%), Luxemburgo e Frankfurt (34%) ou Helsínquia (35%).

Um teto, muitas realidades

O relatório do Conselho Europeu, intitulado "Um Teto, Muitas Realidades: A complexa crise da habitação na Europa", sublinha que este flagelo é um "problema estrutural" da União Europeia, segundo o presidente da instituição europeia, António Costa.

Apesar de a crise da habitação ter "caraterísticas locais e variações entre regiões", é um problema transversal a toda a UE, tendo o preço médio da habitação aumentado 58,33% entre 2015 e o primeiro trimestre de 2025. A Hungria é o país que lidera este crescimento (237%), seguida de Portugal e da Lituânia (147%), de acordo com os dados do Eurostat.

António Costa alertou para a necessidade de resolver o problema da habitação em toda a UE, sob pena de "diminuir a confiança nas instituições democráticas" e de a competitividade sofrer as consequências deste flagelo.

Apesar do "cenário geopolítico desafiante", António Costa considerou "essencial ter também em conta as preocupações quotidianas dos cidadãos da UE". Numa conferência de imprensa conjunta com os presidentes do Comité das Regiões Europeu e do Conselho Económico e Social Europeu, em Bruxelas, na Bélgica, Costa acrescentou que deixar este problema por resolver terá "consequências negativas", afectando a competitividade e a confiança nas instituições.

Por conseguinte, o problema do acesso à habitação, devido ao aumento dos preços do arrendamento e da compra para além das possibilidades das famílias, será debatido pela primeira vez numa reunião do Conselho Europeu hoje. E para "várias causas", o Presidente do Conselho Europeu prometeu "várias soluções".

Apesar de a habitação ser uma competência de cada país da União Europeia, Costa considerou que é possível resolver o problema com uma abordagem à escala da UE, apontando o plano que a Comissão Europeia está a desenvolver.

"Embora se trate de uma questão de jurisdição nacional, é crucial que, enquanto líderes europeus, discutamos como podemos complementar os nossos esforços", defendeu.

Quando questionado sobre o papel específico que a União Europeia, enquanto bloco comunitário, pode desempenhar, António Costa disse que o "primeiro contributo será dar mais margem de manobra às autoridades nacionais" para resolverem este problema, tendo em conta realidades concretas, recorrendo, por exemplo, a fundos europeus.

Se os países querem investir no "aluguer de curta duração, é preciso dar-lhes instrumentos que o facilitem", defendeu.